Morte no Sul

Tenente que matou tenista de 16 anos no Sul continua solto

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9 de setembro de 2001, 11h56

A morte do tenista Thomás Feltes Engel, de 16 anos, provocada por um tiro disparado pelo tenente Paulo Sérgio de Souza, durante abordagem policial, continua provocando forte debate na região do Vale dos Sinos, no Rio Grande do Sul.

A família e amigos do adolescente morto não se conformam com o fato de o policial continuar solto. Segundo o major Robson Thomazi, que conduz as investigações sobre a morte do tenista, na cidade de São Leopoldo, não existem neste momento pressupostos legais básicos para a decretação da prisão preventiva, segundo reportam a Rádio Gaúcha e a RBS.

Os policiais alegam que o tiro foi um acidente, no momento em que se procedia à revista de Thomás e dois amigos, ambos de 15 anos de idade, no último domingo (2/9). Questiona-se o fato de o oficial estar usando uma espingarda calibre 12. A alegação de acidente não explica a arma estar sendo apontada na direção dos rapazes.

Um dos policiais, em entrevista ao site ClicRBS afirmou que a abordagem foi motivada pela suspeita de dois casais que estavam em um Fiat Uno vermelho. Diante do “grito de advertência”, apenas um dos jovens acatou a ordem para levantar as mãos colado à parede.

O tenente já foi indiciado por homicídio doloso no inquérito da 1ª Delegacia de Polícia Civil de São Leopoldo. Os dois adolescentes que presenciaram a morte de Thomás foram levados para fora do Estado. A medida foi tomada pelas famílias, que temem pela segurança dos jovens.

A Brigada Militar concedeu ao tenente 10 dias de licença médica. O oficial, até agora, não prestou depoimento na 1ª DP de São Leopoldo. Seu advogado, Roberto Leal Kelleter, alega que Souza sofreu abalo emocional e só irá apresentá-lo para o depoimento na Polícia Civil na próxima sexta-feira (14/9).

Em razão do impacto provocado pelo episódio, o governo gaúcho transferiu a o comando-geral da Brigada Militar para Novo Hamburgo.

O comandante-geral da Brigada Militar, coronel Gérson Nunes Pereira, afirmou que o problema é a falta de treinamento dos policiais. O coronel afirmou que é preciso combinar segurança social com políticas de qualificação da polícia. Ele assumiu compromisso com a família Engel, dizendo que não irá e nem está acobertando o tenente Paulo Sérgio de Souza.

O pai do tenista, Henrique Engel, afirmou que entrará com um processo de indenização contra o Estado. Ele disse que se a ação for vitoriosa, doará o dinheiro a escolas para formação de atletas.

A promotora da Justiça Militar, Sandra Goldman Ruwel, afirmou que irá acompanhar todos os procedimentos do Inquérito Policial-militar (IPM). Ela quer que a abordagem policial seja reconstituída e, por isso, já pediu a presença de um perito em armamento para examinar o local onde ocorreu o disparo de espingarda calibre 12.

– Se realmente ficar comprovada a pressão ou ameaça sobre os guris, vamos tomar as medidas judiciais cabíveis. Poderíamos cogitar uma prisão preventiva – diz a promotora.

Na próxima semana, o major Robson Thomazi pretende colher o depoimento dos jovens. O Comando-geral da Brigada Militar disse aos pais dos adolescentes que garantirá a segurança de ambos assim que retornarem ao Estado.

Minutos antes de centenas de pessoas tomarem as ruas de Novo Hamburgo no protesto pela morte do tenista Thomás Engel, o secretário da Justiça e da Segurança, José Paulo Bisol, e o comandante-geral da Brigada Militar, coronel Luiz Antônio Brenner Guimarães, informaram que todos os PMs da região serão submetidos de novo a testes psicológicos.

No Vale do Sinos, onde o comando e a própria Secretaria da Justiça e da Segurança (SJS) se instalaram em regime de exceção, os 987 policiais militares de 12 municípios da região receberão mais uma vez treinamento básico, em especial para as abordagens, e terão de refazer o exame.

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