Escola de Sicários

EUA patrocina centro de treinamento de terroristas

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24 de novembro de 2001, 14h10

Texto de coluna produzida pelo site Primeira Leitura para 16 jornais de todo o país

No próprio quintal

Quando começou a bombardear o Afeganistão, George W. Bush ameaçou os governos que patrocinam os malfeitores e assassinos de inocentes. “Qualquer governo” que faça isso se torna cúmplice, disse o presidente norte-americano. O articulista George Monbiot, do respeitado jornal britânico The Guardian, sustenta que os Estados Unidos vêm treinando terroristas, há 55 anos, no Estado da Geórgia.

Ensino público

O que Monbiot chama de “campo de treinamento de terroristas” é o Western Hemisphere Institute for Security Cooperation (Whisc), localizado em Fort Benning, na Geórgia, e mantido com verbas do governo norte-americano. Até janeiro deste ano, a instituição era chamada de School of the Americas, ou SOA.

Made in USA

Desde 1946, a SOA treinou mais de 60 mil militares e policiais latino-americanos. Entre esses alunos estão muitos dos “mais notórios torturadores, assassinos em massa, ditadores e terroristas de Estado do continente”, afirma o articulista, citando documentos compilados pela SOA Watch, uma entidade de defesa de direitos humanos.

Trabalho de campo

Em junho deste ano, o coronel Byron Lima Estrada – graduado pela SOA – foi condenado na Guatemala pelo assassinato do bispo Juan Gerardi, em 1998. O religioso ajudou a escrever um relatório sobre as atrocidades cometidas pela D-2, a agência de inteligência militar comandada por Estrada e dois outros ex-alunos da escola.

Mérito macabro

Em 1993, uma comissão das Nações Unidas em El Salvador identificou os oficiais do Exército que tinham cometido as piores atrocidades na guerra civil daquele país. Dois terços tinham sido treinados pela SOA. Entre eles, Roberto D’Aubuisson, líder dos esquadrões da morte de El Salvador; os assassinos do arcebispo Oscar Romero; e 19 dos 26 soldados que mataram um grupo de jesuítas em 1989.

De norte a sul

No Chile, a SOA foi responsável pela formação dos comandantes da polícia secreta do ditador Augusto Pinochet e de seus três principais campos de concentração. Um dos ex-alunos da escola norte-americana participou, em 1976, do assassinato do ex-ministro de Allende Orlando Letelier e de sua assistente, Ronni Moffit, em Washington.

Lista do ódio

A lista de ex-alunos da SOA parece um “quem é quem” das ditaduras latino-americanas: Roberto Viola e Leopoldo Galtieri (Argentina); Manuel Noriega e Omar Torrijos (Panamá); Juan Velasco Alvarado (Peru) e Guillermo Rodriguez (Equador).

Sintonia

O FBI define terrorismo como “ações violentas (…) com o propósito de intimidar ou coagir uma população civil, influenciar a política de um governo” ou sua conduta. A definição se encaixa à perfeição nas atividades de graduados pela SOA.

Manual de terrorismo

Até onde vai a responsabilidade da escola sobre os crimes de seus alunos? Em 1996, o governo norte-americano foi forçado a tornar público o conteúdo de sete manuais de treinamento da SOA. As técnicas recomendadas incluíam chantagem, tortura, execução e prisão de parentes de testemunhas…

Assim falou… coronel Mark Morgan:

“Alguns de seus chefes nos disseram que não podem apoiar nada que exiba o nome ‘School of the Americas”. Nossa proposta atende a essa preocupação. Ela muda o nome.”

Do representante da escola, ao encaminhar ao Pentágono um plano para tentar salvar a instituição, quando vários congressistas tentaram fechá-la no ano passado. A School of the Americas lavou as mãos do seu passado mudando seu nome para Western Hemisphere Institute for Security Cooperation.

Tudo é história

Centros de ativismo contra a Guerra do Vietnã nos anos 60 e 70, as universidades norte-americanas dão mostras hoje de um vigor militante em prol da campanha militar no Afeganistão – como relata, com satisfação, o conservador The Wall Street Journal. Um editorial recente do jornal acadêmico Harvard Crimson pedia a continuação dos bombardeios ao Afeganistão durante o mês sagrado dos muçulmanos: “Perseverem durante o Ramadã”.

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