Mudança de perfil

Avanço de mulheres no Direito pode provocar mudança na profissão

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26 de março de 2001, 0h00

As mulheres deverão representar a maioria dos estudantes que entram em escolas de Direito, este ano, nos Estados Unidos. O fato já está mudando a forma como o Direito é praticado. E espera-se que a tendência ajude a elevar mais mulheres para posições de liderança na política e nos negócios.

Mulheres, que correspondiam cerca de 10% dos estudantes do primeiro ano de Direito em 1970, representavam 49,4% dos 43.518 estudantes que iniciaram o curso no ano passado, segundo dados que serão divulgados em breve pela Ordem dos Advogados dos Estados Unidos. Até 9 de março, mais mulheres do que homens estavam se candidatando a cursos de Direito este ano.

A tendência afetará a forma como atuam as escolas de Direito. “Talvez diminuindo menos os confrontos nas aulas, por exemplo, e mudando de certa forma a maneira como operam os escritórios de advocacia”, disseram advogados e professores.

O mais significativo é que à medida que aumenta o número de mulheres que cursam direito, há mais probabilidade que façam carreira em empresas e na política, onde o treinamento legal costuma servir como trampolim para cargos de poder.

Vários fatores estão promovendo o aumento, que é visto em cursos de elite como Yale, assim como em instituições públicas menos prestigiadas como a Faculdade de Direito da Universidade Municipal de Nova York. Apesar de estar em busca da segurança, renda e prestígio que há muito tempo atraem os homens para o Direito, as mulheres também estão reagindo à redução das barreiras reais e percebidas na profissão.

Muitos juizes costumavam não contratar mulheres como assistentes, por exemplo, e grandes escritórios de advocacia não as recrutavam.

Alguns obstáculos importantes ainda resistem.

Apesar do número crescente de mulheres que se formam em cursos de Direito e são aprovadas nos exames da Ordem, a proporção de juízas e sócias em escritórios de advocacia não acompanha o mesmo ritmo.

Em Nova York, por exemplo, onde as mulheres representam mais de 41% das associadas de escritórios de advocacia, menos de 14% delas são sócias, segundo a Associação Nacional de Colocação em Direito.

As mulheres realizaram sérios avanços em outros cursos profissionais -notavelmente na medicina, onde elas correspondem a cerca de 46% dos estudantes que iniciaram o curso no ano passado. Elas dominam alguns outros cursos profissionais, como pedagogia e medicina veterinária. E as mulheres freqüentam cada vez mais os cursos de administração, onde, segundo a Associação Internacional do Ensino de Administração, elas correspondem a cerca de 38% dos estudantes que receberam o MBA em 1998, o dado mais recente disponível.

Mas um número muito maior de pessoas freqüenta cursos de Direito, e considerando o início difícil, foi onde as mulheres conseguiram avanços muito maiores -as mulheres representavam apenas 4% dos alunos do primeiro ano de Direito há 40 anos.

Está ocorrendo “uma lenta mudança na suposição do que as mulheres deveriam considerar fazer”, disse Jean K. Webb, diretora de admissão da Faculdade de Direito de Yale, onde as mulheres representaram pela primeira vez a maioria dos calouros no ano passado. As mulheres representaram 46% dos calouros da Faculdade de Direito de Harvard, 44% em Stanford, 51% em Colúmbia, e 50% na Faculdade de Direito da Universidade de Nova York.

Cynara Hermes, 22 anos, que cresceu em Uniondale, Nova York, e agora é aluna do primeiro ano da Faculdade de Direito de Nova York, disse que ela queria ser uma advogada desde os 7 anos, por causa da série de televisão “Matlock”. Seu interesse foi confirmado após um processo em Mineola, Nova York, onde ela acompanhou alguns dos procedimentos criminais quando ela estava no colegial, como parte de um programa da ordem feminina dos advogados local, disse ela.

“Eu fiquei fascinada”, disse Cynara. “O programa ajudou. Eu disse para a pessoa encarregada que queria ser uma advogada”, acrescentou.

A atração do curso de Direito para muitas jovens não é tanto o direito em si, mas as oportunidades que o diploma concede. “Ele lhe dá tantas opções sobre diferentes tipos de trabalho que você pode fazer”, disse Mallory Ciar Curran, uma estudante do segundo ano da Universidade de Nova York.

Segundo ela, “um diploma de Direito pode facilitar a conquista de um emprego como analista de política governamental, entrar na política e ascender profissionalmente em uma empresa, assim como representar clientes individualmente”.

Apesar de muitas faculdades ainda se esforçarem para recrutar mulheres, a maioria dos cursos de Direito não mais realizam tal esforço especial. Yale realizou uma vez, em 1996, mas desde então “os números cresceram, e parecem estar crescendo sem nenhum esforço em particular da nossa parte”, disse Webb.

Fonte: New York Times

Revista Consultor Jurídico, 26 de março de 2001.

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