Práticas transformadoras

Escritórios de advocacia se dedicam às causas sociais

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11 de maio de 2001, 0h00

Na distância entre a teoria e a prática, ou entre o discurso e a realidade, o advogado convive com valores e antivalores. O conflito entre a procura da justiça social e a realidade da vida pode gerar frustração e depressão.

Essa reflexão, estampada no livro “Transforming Practices – finding joy and satisfaction in the legal life”, do americano Steven Keeva, chamou a atenção do advogado brasileiro Lionel Zaclis, enquanto realizava pesquisa na biblioteca da conhecida Escola de Direito de Harvard para um trabalho de cunho acadêmico

Steven Keeva é advogado e jornalista, editor sênior de importante publicação, a ABA Journal, da American Bar Association, a publicação legal mais lida no mundo. Seu livro, lançado em 1999, trata da crise existencial dos operadores do direito e do efeito do trabalho social que pode ser desenvolvido como um antídoto para esse problema.

Zaclis apreciou tanto o livro que adquiriu outros exemplares para presentear alguns de seus colegas que, como ele, se preocupam com o assunto e têm dedicado especial atenção às atividades pro bono de seus escritórios.

Nas palavras de Lionel Zaclis, essa tendência de participação é irreversível, porque nasce de uma imposição inarredável: “Funções que, tradicionalmente, eram do Estado”, explica ele, “devem ser assumidas agora pela própria sociedade e os advogados têm um papel importante nessa transformação”.

Esse papel se inscreve, também, no apoio às organizações não governamentais, também conhecidas como do “terceiro setor”, que, para bem cumprir suas tarefas, devem nascer estruturadas de maneira correta e sujeitar-se à disciplina legal aplicável. E, para isso, necessitam de assessoria jurídica adequada, afirma o advogado.

Esse tipo de envolvimento atende, certamente, a um reclamo resultante da conscientização do papel dos indivíduos dentro de uma sociedade civil organizada.

É também um caminho para o resgate de valores muitas vezes olvidados na carreira cada vez mais competitiva da advocacia. Os defensores desse tipo de visão da realidade jurídica já se encontram até organizados em entidades como a International Alliance of Holistic Lawyers (e-mail: [email protected]).

A banca Mattos Filho Advogados está destinando, anualmente, 3.000 horas do trabalho de seus profissionais a clientes especiais como a AACD (Associação de Assistência à Criança Deficiente), a ASCCI (Ação Solidária contra o Câncer Infantil) e a APAE (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais).

O escritório Zaclis e Luchesi vem prestando serviços “pro bono” para diversas entidades sociais e culturais, como a Congregação Israelita Paulista, a Orquestra de Câmara Solistas do Brasil, a AmeCampos (Associação dos Amigos de Campos do Jordão) etc.

Na opinião amadurecida de Lionel Zaclis, só há vantagens nesse tipo de envolvimento “o qual propicia uma visão distinta e muitas vezes mais abrangente da realidade jurídica e, com isso, uma maior criatividade no encontro das soluções necessárias, benefícios esses que acabam sendo valiosos quando se trata de assessorar empresas com fins lucrativos”. Além, é claro, de ser bastante gratificante.

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