Garotas do Programa

Internet alimenta explosão de turismo sexual no Brasil

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7 de janeiro de 2001, 23h00

“Na Agência Roberta, um serviço de garotas de programa deste paraíso turístico famoso pelo sol e pelo pecado, os negócios estão florescendo, em grande parte graças a Internet”, escreve do Rio de Janeiro Kevin Hall, correspondente do jornal americano San Jose Mercury News.

“Italianos, alemães, americanos e outros estrangeiros agora podem marcar encontros com antecedência, antes mesmo de seus aviões aterrissarem. É a mais antiga profissão do mundo ganhando o apoio da mais recente tecnologia”.

“É a globalização”, explica Vanessa, gerente da agência de Escorts On Line que cobra US$150 por três horas de prazer. “Todo mundo tem uma home page. As prostitutas sabem disso”, diz Betty, uma prostituta free-lance que anuncia seu website no jornal O Globo.

A Internet ganhou fama como um instrumento para se conseguir sexo consensual via chat rooms. Mas ela tem uma função mais sinistra. Tornou-se um instrumento que ajuda a exploração de mulheres enganadas ou forçadas a se prostituírem em todo o mundo.

No Brasil, as prostitutas se tornaram alvo das máfias do sexo, que as levam para o exterior e as escravizam. Cerca de 75 mil mulheres brasileiras trabalham na Europa como prostitutas, muitas contra sua vontade.

Carla Dolinski, detetive da polícia carioca que comanda uma investigação sobre o tráfico de mulheres, diz que recentemente recebeu reclamações sobre um e-mail que circulou amplamente pela Internet recrutando prostitutas brasileiras para trabalhar na Espanha.

Há casos bem documentados de mulheres que foram enganadas, viajaram para o exterior acreditando que iam trabalhar e foram obrigadas a se prostituir.

Um desses casos é o de Beatriz, de 20 anos, pele cor de ébano e sorriso de garota de capa de revista. Ela deixou sua casa em um pobre subúrbio do Rio indo para a ilha turística de Lanzarote, perto das Ilhas Canárias. Ela disse que pensava que ia trabalhar num grupo de dança brasileiro, mas acabou escravizada, obrigada a fazer sexo ao vivo para espanhóis e outros turistas, sem pagamento, até que conseguiu escapar.

Outra brasileira, que pediu para ser chamada apenas de Ana, disse que foi para Tel Aviv há dois anos pensando que trabalharia como uma garçonete bem remunerada. Depois de chegar a Israel, seus documentos foram confiscados e ela recebeu a notícia de que ia ser prostituta a serviço da máfia russa e sem direito a pagamento. Ela começou a trabalhar na própria tarde em que chegou. Como Beatriz, ela fugiu. Uma de suas amigas foi assassinada pela máfia por não cooperar.

Beatriz e Ana não acharam seus “empregos” com a ajuda da alta tecnologia, mas Dolinksi teme que o correio eletrônico e os sites de internet tentem outras mulheres desesperadas a viajar atrás de promessas de uma vida melhor para terem o mesmo destino.

“Se um estrangeiro tem um site oferecendo mil dólares por mês, as garotas vão. É difícil investigar o que vem de fora do Brasil”, diz Dolinski.

Em um site, por exemplo, internautas trocam dicas sobre bordéis de várias partes do mundo. “Quase todas as garotas têm bebês, mas mesmo assim, são ótimas!!! Se você gosta de meninas, não encontrará mais baratas em nenhum outro lugar”, diz um homem falando de sua viagem ao Brasil.

Outro site lembra que sexo com menores é ilegal no Brasil. Mesmo assim, sugere que “se você tem menos de 50 anos, é branco, ou melhor ainda, louro e de olhos azuis, tente flertar com qualquer menina de 16 em diante, nas ruas perto das escolas”.

O mesmo site destaca que o governo brasileiro está combatendo a prostituição infantil mas parece justificar o sexo com menores de idade, afirmando que “ou elas sofrerão abuso sexual em casa ou ficarão mendigando pelas ruas, buscando comida em latas de lixo”.

Ativistas no Brasil e em todo o mundo avisam que vão lutar com as mesmas armas – usando a internet para alertar mulheres contra a escravidão sexual.

Cristina Leonardo, uma advogada brasileira defensora dos direitos humanos, está criando um site dedicado a fornecer informações sobre traficantes de mulheres conhecidos. Seu “Projeto contra o Tráfico de Seres Humanos” pretende criar uma central telefônica nacional e internacional onde as pessoas poderão fazer denúncias às autoridades.

Através do Centro de Defesa Brasileiro, a advogada tenta também criar programas de treinamento On Line para que as polícias e tribunais possam ter acesso as informações de todo o mundo e proteger as mulheres da escravidão dos tempos modernos.

Fonte: San Jose Mercury News – EUA

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