Software livre (I)

Grupos de Usuários discutem a saga e o futuro do Linux (I)

Autor

  • Omar Kaminski

    é advogado e consultor gestor do Observatório do Marco Civil da Internet membro especialista da Câmara de Segurança e Direitos do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) e diretor de Internet da Comissão de Assuntos Culturais e Propriedade Intelectual da OAB-PR.

19 de dezembro de 2001, 11h33

A partir desta quinta-feira (20/12), a Revista Consultor Jurídico apresentará três reportagens e entrevistas produzidas a partir da 1ª Confraternização Nacional de GUs Open Beach 2001, realizada de 7 a 9 de dezembro, na Pousada Residencial Âncora, em Florianópolis, Santa Catarina e culminando em uma visita, no dia 13 de dezembro, à sede da Conectiva, em Curitiba, no Paraná, que é a empresa pioneira e líder no mercado latino-americano deste segmento.

Abaixo, você verá a entrevista feita com Andrey de Abreu, diretor do GU (Grupo de Usuários) Linux SC e Sulamita Garcia, analista de suporte da Nexxera Tecnologia e Serviços S/A. Após, traremos a entrevista com Fernando Roxo da Motta, consultor técnico na área comercial da Conectiva, que também esteve no encontro de Florianópolis e, por fim, a entrevista feita com José Manuel Barbosa, diretor de marketing da Conectiva.

Open Beach 2001

A 1ª Confraternização Nacional de GUs Open Beach 2001 oportunizou o encontro de grupos de usuários de diversas partes do país (GU OpenSystem PR, GU MT, GU Floripa SC, GU Porto Livre RS), bem como de membros ativos da comunidade Linux.

O encontro discutiu os planos para 2002 e serviu para levantar novas idéias para a comunidade, como a necessidade de confecção de uma “cartilha” de dicas e truques e um material unificado para os GUs. Foi também apresentada a proposta de um sistema de gestão, sempre com o objetivo de integrar os grupos e expandir a idéia da criação de uma rede nacional de GUs.

Um dos organizadores do evento, o diretor do GU Linux SC, Andrey de Abreu, explicou que o objetivo da confraternização é o de levar a idéia de formação dos grupos para todas as partes do Brasil. “Qualquer pessoa, desde o pequeno usuário até o usuário master de Linux, pode se unir e formar uma grande comunidade de software livre”.

Em sua opinião, o GU, hoje, é o melhor meio de se transmitir para as pessoas que o sistema livre é bom e que funciona da mesma maneira que os outros. “É mera questão de adaptação à nova maneira de usar, à nova interface, e a função dos GUs é passar para toda a comunidade interessada as noções corretas”.

Andrey citou que hoje existem várias listas de discussão que ajudam muito os usuários e que na comunidade Linux um usuário colabora com o outro que está passando por dificuldades. A mesma opinião é compartilhada pela analista de suporte da Nexxera Tecnologia, Sulamita Garcia, a qual considera que o código aberto favorece a integração ente os usuários.

“No Windows, se você quer a informação, ninguém vai dar de graça. Por ser tudo fechado, você só vê o seu executável, o que está rodando ali, mas não pode abrir para ver o que está acontecendo. Como ninguém vai poder mexer no programa, terá que pedir para quem fez, e ele irá cobrar por isso. O usuário nunca saberá o que foi feito.”

Linux versus Windows

Para Andrey de Abreu existem várias vantagens do software livre (Linux) em relação ao software de prateleira (Windows). “Hoje você compra uma cópia de Linux e instala em 20, 30 máquinas; no caso do Windows há a necessidade de uma licença para cada cópia – essa é a lógica para qualquer sistema operacional proprietário”.

As empresas são as maiores beneficiadas com o uso do Linux, em sua opinião, porque o sistema é aberto, bem adequado para servidores e tem um baixo custo. E cortar custos é a palavra de ordem em muitas empresas. Como provas da adequação do Linux para aplicações de grande porte, Andrey cita o governo do Rio Grande do Sul, que adotou o software livre no Estado, e um projeto de Lei para uso do software livre na prefeitura de Florianópolis.

Ele acha que a adoção do Linux por empresas não é nenhum “bicho de sete cabeças”, desde que se invista em treinamento do pessoal e na adaptação. Em sua opinião, o investimento será recompensado, porque não haverá necessidade de se pagar continuamente por novas versões. “Quem criou o sistema? A empresa. Então de quem é o problema? Da empresa. Se você comprou um sistema, o mínimo que espera é que ele funcione”. Ele admite que, assim como todo sistema operacional, o Linux também tem bugs, mas são rapidamente identificados e corrigidos pela comunidade, as correções são gratuitas e estão disponíveis na Internet.

“À medida que o Linux for se expandindo, as pessoas verão que, realmente, tudo que elas têm no sistema proprietário hoje podem ter no sistema Linux, de graça ou com custo bem mais baixo”, afirmou. Ele reconhece que no princípio a adoção do novo sistema Linux para o usuário desktop ainda não é tão simples, principalmente na enumeração de hardware (citou o caso de placas PCMCIA).

“Mas você poderá fazer todas as mesmas coisas, apenas de uma maneira diferente”. Andrey considera que o maior problema dos sistemas proprietários é o monopólio “de nome” que algumas empresas têm no mercado, porém sem produzir software de qualidade.

“Você tem um sistema X e a correção do bug do sistema X. No caso de um bug no Linux, se você é um programador, está na área, pode abrir o código, tentar resolver o problema de alguma maneira, tem mais autonomia. Com um software livre, você pode fazer o que quiser, não vai ser preso por isso, e sabe o que tem ali por detrás.

No caso do sistema proprietário, você está rodando um sistema, ele acusa uma ‘tela azul’, e você não sabe porque isso ocorreu; e a cada versão nova tem que comprar um computador novo; você não consegue rodar um Windows 98 em um 486, mas roda o Linux tranqüilamente”.

A preocupação de Andrey é que o Linux possa se tornar alguma coisa pesada. Perguntado sobre o que seria “alguma coisa pesada”, respondeu: “Windows” (risos). Um sistema que você está usando mas que não tem confiabilidade”.

Salientou o caso de uma universidade que adotou o software livre, mas estabeleceu uma interface visualmente idêntica à do Windows. Para ele isso é uma “agressão”, pois se a pessoa tem que migrar de sistema, que não seja por meio de uma visão viciada do Windows.

Segurança no Linux

Para os defensores do Linux, o grande diferencial que proporciona ao sistema maior segurança é a hierarquia de direitos para se executar determinadas tarefas. No Linux, existe o usuário “root” – que desempenha as funções de administrador e tem acesso total ao sistema – e os outros usuários, os quais possuem acesso limitado.

Dessa forma, mesmo que um intruso ou um programa como um vírus consigam acesso à máquina, não poderão modificar funções essenciais, a não ser que obtenham acesso root. Além disso, diz, a senha do Linux é de “criptografia irreversível” – não há uma chave privada e uma chave pública.

Mesmo assim, existem alguns bugs que permitem acesso root ao sistema. Andrey de Abreu lembra também que a inserção de programas é inevitável (pelo ls do Linux, ou dir do DOS), pois há comandos básicos que acrescentam algo, e isso é potencialmente perigoso. “Mas tudo depende de como você configurou o seu micro”, diz. “No Windows você não pode restringir muitas coisas, não pode configurar para ter segurança no sistema, no Linux você pode”.

A presença feminina na comunidade

Quem pensa que um encontro de usuários Linux reúne apenas homens está enganado. No 1º Open Beach, por exemplo, várias mulheres integravam os grupos. Elas ainda estão em menor quantidade do que os homens, mas essa diferença numérica vem diminuindo de modo crescente, e demonstrando o alto nível de especialização de algumas delas.

Sulamita Garcia trabalha na área de informática há 6 anos, e diz que na sua empresa, a Nexxera, há igualdade entre homens e mulheres. Ela acha que as mulheres são mais tímidas e por isso ainda há a predominância dos homens neste setor, essencialmente técnico.

Sulamita integra uma comunidade chamada “Linuxchix”, originada no Canadá, na qual as mulheres resolveram se juntar e mostrar que existem. Ela afirma que as mulheres buscam ser mais cordiais com os iniciantes, e ao mesmo tempo incentivam a participação de novas integrantes. “O pessoal do Linux tem aquela ‘fama de mau'”, brinca. Outro grupo de usuárias Linux presente no evento foi o das “Gnurias”, fundado por alunas do Centro Universitário Univates, localizado na cidade de Lajeado, no Vale do Alto Taquari, Rio Grande do Sul.

Veja a entrevista com Sulamita Garcia na Revista do Linux.

Fim da Parte I.

Agradecimentos especiais a Evangelina Ladanivsky, Gerente de Marketing da Conectiva.

(A série de reportagens foi realizada em parceria com o jornalista Giordani Rodrigues, editor do site especializado em segurança InfoGuerra).

Veja também a Parte II e a Parte III da ‘Trilogia Linux’.

Autores

  • Brave

    é advogado, diretor de Internet do Instituto Brasileiro de Política e Direito da Informática (IBDI) e membro suplente do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br).

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