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Conclusão: FHC irrita empresários com frase 'exportar ou morrer'.

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27 de agosto de 2001, 17h58

O lema lançado pelo presidente FHC de “exportar ou morrer” irritou empresários do setor de exportação. Segundo a notícia do jornal do Estado do Paraná, três executivos brasileiros com forte atuação no mercado internacional, Alain Belda, presidente mundial a Alcoa, Henrique Meirelles, presidente do BankBoston, e Jorge Raimundo, ex-presidente da Glaxo, criticaram especialmente a falta de ações concretas do governo em relação às exportações. “O que há é uma incompetência. Exportar ou morrer, pelo amor de Deus, isso é brincadeira”, comentou Belda.

O presidente da Associação Brasileira de Comércio Exterior (Abracex), Primo Roberto Segatto, também ironizou a declaração de FHC. “Acho que o governo, pela insegurança econômica que gerou no país com esta taxa de juros altíssima e com a crise energética, está mais para morrer do que para exportar”.

As dificuldades são várias. Mas a maior delas é o fato de a economia americana estar agonizando, deixando de ser a tábua de salvação, absorvendo a produção industrial dos países aliados e que aderiram à cartilha neoliberal, conhecida como Consenso de Washington, que para isso utiliza a legislação existente sobre medidas antidumping, um dos principais mecanismos dos Estados Unidos de proteção comercial, responsável por travar os embarques de pelo menos 16 produtos brasileiros, principalmente os siderúrgicos.

Os empresários reclamam da falta de uma política agressiva do governo às exportações, concluindo inclusive que a desvalorização do real encareceu muito o financiamento à exportação para as empresas brasileiras. O governo responde com a proposta de adoção das Zonas de Processamento de Exportação (ZPEs), que ajudou, por exemplo, a China a elevar suas exportações, hoje na casa dos US$ 400 bilhões de dólares, nove vezes mais do que o Brasil exportou em 2000.

Examinando este cenário, o presidente mundial do BankBoston, Henrique Meirelles faz suas conclusões, afirmando que país está no caminho certo.

Veja a notícia divulgada no Jornal do Brasil

Meirelles propõe déficit zero no Brasil

Para presidente do BankBoston, país está no caminho certo, mas deveria assumir mesmo compromisso que Argentina

O presidente mundial do BankBoston, Henrique Meirelles, acredita que o Brasil está na direção certa, fazendo o dever de casa correto, empenhado em cortar o déficit público, reduzir o chamado Custo Brasil, aumentar a competitividade e buscar o crescimento da economia para reduzir as desigualdades sociais. No entanto, nos últimos meses, alguns temas têm preocupado esse executivo brasileiro, que há cinco anos ocupa, em Boston, lugar de destaque no board de um dos principais grupos financeiros do mundo, com US$ 420 bilhões, entre ativos totais e a administração de recursos de terceiros.

A preocupação de Meirelles é com propostas defendidas por alguns interlocutores, que ele considera ultrapassadas, como o fechamento da economia brasileira e a utilização da máquina do governo como o principal financiador do crescimento. ”Não podemos mais olhar o mundo pelo retrovisor. Temos que continuar olhando para a frente”, adverte Meirelles em entrevista ao Jornal do Brasil.

Ele sugere que o modelo a ser seguido pelo país deverá ser o das economias que estão dando certo, crescendo com fôlego, como Cingapura, onde a renda per capita anual é de US$ 30 mil.

Conselhos – Olhar para a frente significa, na opinião do presidente do BankBoston – também presidente do Fleet Boston Bank, que comanda a operação de negócios corporativos do grupo -, continuar no processo de abertura do mercado, avançar na negociação com os blocos comerciais, acabar a reforma tributária e combater o déficit público.

”Só assim é possível baixar os juros, gerar mais empregos e crescer. A partir daí, será possível aumentar a receita e gerar mais investimentos sociais”, diz.

O executivo conta que leu recentemente um artigo defendendo que o futuro do Brasil vem da Ásia. ”Fiquei animado, porque tinha acabando de voltar de Cingapura. Mas o modelo defendido era o da Malásia, de um país que não deu certo, que controlou o fluxo de capitais, reestruturou a dívida. Não entendo essa nossa compulsão de olhar o que está errado”, considera.

Meirelles prevê que ainda é possível esperar um crescimento da economia brasileira em 2002 próximo a 4,5%. Mas alerta que será preciso reduzir as taxas de juros, concluir a reforma tributária e buscar o déficit zero, como está fazendo a Argentina. ”Ninguém mais acredita que o estado ainda possa ser o principal financiador do desenvolvimento. Isso é coisa dos anos 50, o que eu chamo de olhar pelo retrovisor”, reforça.

Desaceleração – Sobre a Argentina, ele avalia que o acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o pacote do déficit zero foram medidas importantes. Mas admite que o quadro é difícil no médio e no longo prazo. O presidente do BankBoston lembra que o Brasil e a Argentina foram atingidos pela desaceleração das principais economias do mundo, como Estados Unidos, Europa e Japão. Ele espera, porém, que a economia americana volte a crescer cerca de 2% a partir de 2002.

Meirelles frisa que, apesar de o Brasil ser um competidor importante no mercado internacional, precisa, como em uma final de campeonato de futebol, ”jogar para ganhar e não para fazer número”. ”O jogo da economia global é para profissionais e ninguém será bonzinho conosco só porque achamos que somos especiais”, avisa. Ninguém deve interpretar as palavras do executivo bem-sucedido – que é recebido pelos principais dirigentes das nações que visita – como alguém que esconde sua nacionalidade. Pelo contrário.

O sotaque não é americanizado e sim de um goiano que se orgulha das suas origens. Aos 55 anos, o presidente do BankBoston confessa que, volta e meia, tem que se conter para evitar ”puxar a sardinha” para o Brasil. ”Como executivo de uma corporação de presença global, temos que pensar com a cabeça no mundo”, diz. Mas, com a experiência de quem vive de olho em várias economias e de quem já perdeu a conta das viagens internacionais a trabalho, Meirelles explica que o Brasil precisa correr para não perder o trem da modernização. Ele acredita que o país perdeu muito tempo, principalmente porque até 1999 manteve o dólar barato para não ter que enfrentar o problema do déficit público. O preço foi perder espaço no mercado internacional.

”O trem ainda está na estação, mas tem muita gente querendo entrar nos poucos lugares ainda vagos. Precisamos ter um senso de urgência”, adverte ele, que cita como casos bem-sucedidos na disputa pelas ”vagas” China, Índia, México e Chile.

O executivo se esquiva de dar nota ao governo Fernando Henrique. ”Gosto de dizer que ele está na direção certa”. E também não responde se uma vitória da oposição, como a do Partido dos Trabalhadores, assustaria os investidores estrangeiros. ”Ainda está muito cedo para avaliar o tabuleiro político de 2002.” Ele deixa claro, no entanto, que o novo governante – ”seja quem for” – precisa continuar a olhar para a frente. (JB 25/8)

O autor é advogado trabalhista em Curitiba e em Paranaguá, Diretor de Assuntos Legislativos da Abrat (Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas), integrante do corpo técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) e da comissão de imprensa da AAT-PR (Associação dos Advogados Trabalhistas do PR)

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