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Conclusão: desafio de la Rúa é elevar confiança de investidores

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23 de agosto de 2001, 16h25

A filosofia do FMI de considerar mero orgulho nacional a defesa de sua soberania como direito do país provocou reação de indignação pública da coletividade em geral. Assim, o investidor internacional reduziu suas exigências na concessão do empréstimo à Argentina.

O empréstimo fica condicionado, dentre outras exigências ainda não aclaradas, a que aquele país vizinho mantenha intacta sua capacidade de pagamento, com rigor a política do cumprimento do plano de déficit fiscal zero.

O presidente Fernando de la Rúa convocou entrevista coletiva para falar sobre a delicadeza do momento. “Este é o momento da reação ou da rendição”, afirmou.

Ele anunciou um plebiscito para depois das eleições de outubro, quando o povo vai opinar sobre a necessidade de se reduzir os gastos da política. Com o empréstimo, reduzindo-se a taxa de risco, isto pode causar queda nas taxas de juros, permitindo que a arrecadação tributária melhore, não necessitando assim de tantos esforços e sacrifícios dos argentinos.

Segundo reportagem do site Âmbito Financeiro, o novo desafio do governo argentino nos próximos meses será elevar a confiança dos investidores estrangeiros para participarem da mega troca (novo swap) dos títulos da dívida argentina.

Veja o texto publicado no jornal O Estado de S. Paulo.

Argentina festeja ajuda, analistas desconfiam

Para de la Rúa, apoio vai “eliminar as incertezas” que imperavam sobre o país

ARIEL PALACIOS

BUENOS AIRES – Pela primeira vez, em várias semanas, a Argentina conseguiu uma trégua com os mercados, graças à promessa do Fundo Monetário Internacional (FMI) de ampliar a ajuda financeira ao país. A taxa de risco caiu de 1.651 pontos para 1.450 pontos. A Bolsa de Buenos Aires, eufórica, disparou, fechando em alta de 8,16%, embora tenha movimentado pouco mais de US$ 20 milhões.

No Brasil, entretanto, o dólar teve uma queda discreta, e muitos analistas mostravam-se decepcionados com o pacote, reação também observada nas opiniões de analistas dos EUA. Integrantes do governo mostravam satisfação, mas à noite o presidente Fernando de la Rúa convocou uma entrevista coletiva falando sobre a delicadeza do momento que o país atravessa.

“Este é o momento da reação ou da rendição”, afirmou. “É o momento de gastar menos ou deixar a economia entrar em colapso”. Para isso, anunciou um plebiscito para depois das eleições de outubro, quando o povo vai opinar sobre a necessidade de se reduzir os gastos da política.

Segundo De la Rúa, a redução da taxa de risco vai causar queda nas taxas de juros, e isso permitirá que a arrecadação tributária melhore. “Dessa forma, o cumprimento do plano de déficit fiscal zero não necessitará de tantos esforços e sacrifícios dos argentinos”, disse.

O ministro da Economia, Domingo Cavallo, deixou de lado o estilo exuberante e, cauteloso, afirmou que com essa ajuda “não haverá milagres”. Segundo Cavallo, o crescimento somente será possível “com perseverança”. No entanto, disse que haverá “uma calma permanente” daqui para frente.

Cavallo também afirmou que o FMI concedeu à Argentina a quantia que havia sido pedida, que finalmente ficou em US$ 8 bilhões de dólares, dos quais US$ 5 bilhões serão entregues em setembro e os restantes US$ 3 bilhões nos início do ano que vem. Ele também fez um apelo aos argentinos para que voltem a ter confiança neles mesmos e nas instituições financeiras do país. No entanto, admitiu que isso não será fácil. “Três anos de recessão são uma experiência muito dura.”

Domingo Cavallo destacou que conseguiu apoio do FMI para a redução do custo da dívida, mas evitou, veementemente, utilizar o termo “reestruturação”. Preferiu não entrar em detalhes sobre como seria. “Estamos analisando várias operações voluntárias e amistosas dos mercados.” Sustentou que o FMI não colocou condição alguma para a concessão da ajuda. “O Fundo aceitou o programa de déficit fiscal zero.”

A União, disse Cavallo, já está aplicando o plano de déficit zero, que implica gastar somente o que se arrecada e garantiu que as Províncias terão de seguir o exemplo. Discursando para um evento da Câmara dos Exportadores, o ministro descartou a desvalorização da moeda para impulsar a competitividade das exportações. “Na década de 90, até 1997, com a moeda supervalorizada, conseguimos melhorar as exportações por causa do aumento na produtividade.”

Um dos assessores de Cavallo, Horacio Liendo, afirmou que a ajuda do FMI vai permitir que a reativação econômica se torne possível e negou que o acordo inclua a privatização de bancos estatais. (O Estado de S. Paulo -23/8)

O autor é advogado trabalhista em Curitiba e em Paranaguá, Diretor de Assuntos Legislativos da Abrat (Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas), integrante do corpo técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) e da comissão de imprensa da AAT-PR (Associação dos Advogados Trabalhistas do PR)

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