Conclusão

Conclusão: Não adiantou Argentina ter seguido cartilha neoliberal.

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20 de agosto de 2001, 12h54

O ex-ministro da Defesa e da Economia da Argentina Ricardo López Murphy, em seminário no Rio de Janeiro, fez um resumo dos efeitos da euforia à depressão profunda vivida pela Argentina no momento atual. A Argentina fez toda a lição de casa e seguiu fielmente a cartilha do neoliberalismo (Consenso de Washington). Desregulamentou a legislação social e trabalhista, flexibilizou os direitos trabalhistas, precarizou as condições de vida e laborais. De nada adiantou, ter seguido fielmente a cartilha imposta pelos interesses do capital transnacional.

Wolfgang Sauer, ex-presidente da Volkswagen do Brasil e da Câmara de Comércio Brasil-Alemanha, ao enaltecer a política de privatizações do governo e o acordo recém-firmado do Brasil com o FMI, saiu com esta fábula: “O capital externo é como um veadinho novo, que precisa de um lugar seguro para se alimentar; qualquer movimento nas imediações desse local o assusta, e ele foge”. (O Estado do Paraná, 15-08-01).

O novo pacote de ajuda financeira do FMI à Argentina que está sendo negociado trata com orgulho o direito de soberania dos povos, impondo como contrapartida duríssimas condições que o país deverá cumprir, sob rígida supervisão do organismo, dentre as quais, a implementação das reformas da previdência e da saúde, a reestruturação da Anses (o INSS argentino) e do PAMI (previdência dos aposentados), a privatização do Banco de la Nación Argentina, um novo arrocho fiscal nas províncias e até mesmo a revogação da lei que prevê a incorporação do euro ao regime monetário argentino.

Veja o texto publicado no Jornal do Brasil.

Argentina: mercado tem dia de cão

Apesar da confirmação do FMI de que negociações envolvem nova ajuda, demora e falta de apoio dos EUA frustraram

WASHINGTON E BUENOS AIRES – Da euforia à depressão profunda. No oitavo dia ininterrupto de negociações com a Argentina, o Fundo Monetário Internacional (FMI) confirmou que o que está na mesa é uma ajuda extra ao país, mas o mercado financeiro local viveu um dia de cão. A Bolsa de Valores de Buenos Aires desabou 6,04%, enquanto o risco-Argentina disparou para 15,01% contra os 13,88% da véspera.

‘A possibilidade de uma ajuda adicional é um dos temas que está sendo discutido’, admitiu Thomas Dawson, porta-voz do FMI. A missão chefiada pelo secretário de Finanças e número dois da economia argentina, Daniel Marx, busca um empréstimo extra do Fundo para conter o risco de quebra da Argentina, que está assistindo ao esvaziamento dos depósitos bancários e das reservas internacionais. Entre 31 de julho e o último dia 15, as reservas consolidadas do sistema financeiro argentino perderam US$ 1,3 bilhão, enquanto as reservas líquidas do Banco Central local caíram US$ 1,12 bilhão.

Fatores – Em seminário no Rio de Janeiro ontem, o ex-ministro da Defesa e da Economia da Argentina, Ricardo López Murphy, disse que a queda na competitividade, o crescimento da dívida em ritmo mais rápido que a condição de pagamento, a perda de confiança interna e externa e a quebra da coalizão que garantia a governabilidade foram os quatro fatores que levaram o país à atual crise.

‘Passei vários anos assinalando a inconsistência do crescimento econômico inferior ao aumento do gasto público, chamando atenção para a baixa eficácia destas políticas. Fiz isso como professor, como economista e como ministro, mas não encontrei ouvidos’, reclamou.

Colaborou ainda para o pânico no mercado argentino ontem a reticência por parte do secretário do tesouro dos Estados Unidos, Paul ONeill, de apoiar a liberação rápida de novos recursos do FMI à Argentina.

‘Estamos trabalhando para encontrar um caminho que crie uma Argentina sustentável e não uma que continue consumindo o dinheiro de bombeiros e carpinteiros americanos que ganham US$ 50 mil por ano e se perguntam que diabos estamos fazendo com seu dinheiro’, disse ONeill, que se opõe a qualquer resgate de países em crise por achar que a ação só serve para salvar a pele de especuladores que tomaram más decisões de investimentos.

O desastre de ontem também foi creditado à expectativa exagerada dos investidores, alimentada pela imprensa local, de que o anúncio da nova ajuda do FMI sairia ainda esta semana. ‘O mercado e a imprensa argentina estão carregando nas tintas sobre um iminente acordo e, ao não surgirem notícias rápidas, o impacto termina sendo negativo’, comentou Hernán Fardi, analista chefe da consultoria Maxinver.

Mais exageros – Dawson, que já havia alertado que as cifras da ajuda que estavam sendo publicadas, em torno de US$ 15 bilhões, eram pura especulação, disse novamente ontem que elas são ‘exageradas’, além de ter se recusado a prever quando as conversações terminariam e quais seriam as condições do novo empréstimo. ‘Não estou em posição de afirmar quando terminarão (as negociações), ninguém está nessa posição’, contou.

No início da noite outro porta-voz do FMI, William Murray, jogou um balde de água fria definitivo nas expectativas de uma solução rápida para a Argentina ao dizer que ‘pelo menos’ até segunda-feira não haverá anúncios sobre as negociações com o país. ‘Não se prevê que o FMI vá fazer mais declarações sobre a Argentina até pelo menos a segunda-feira’, afirmou. (JB – 18 de agosto de 2001)

O autor é advogado trabalhista em Curitiba e em Paranaguá, Diretor de Assuntos Legislativos da Abrat (Associação Brasileira dos Advogados Trabalhistas), integrante do corpo técnico do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) e da comissão de imprensa da AAT-PR (Associação dos Advogados Trabalhistas do PR)

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