Crimes da Era Digital

Mauro Marcelo diz que cenário do crime na Internet é desesperador

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1 de setembro de 2000, 0h00

(A Consultor Jurídico publica a partir de hoje, até segunda-feira, uma série de três artigos de Mauro Marcelo de Lima e Silva sobre crimes na Internet. O autor é delegado de polícia em São Paulo, formado pela Academia Nacional do FBI (turma 173), graduado em Justiça Criminal pela UVA – Universidade de Virgínia-EUA, membro da PFI – Police Futurists Internacional, membro da IACP – International Association of Chief of Police e da IACIS – International Association of Computer Investigative Specialists, foi coordenador da Web-Police para o Brasil.)

Há alguns anos atrás, no Centro de Treinamento das Polícias Federais nos Estados Unidos – FLETC – na Georgia, o Agente Federal Manson, provocou risos ao dizer que os policiais em breve seriam chamados de Cybercops e necessitariam, além de arma e distintivo, de um notebook para combater os crimes de computadores.

Hoje ninguém mais ri disso. O crescimento geométrico proporcionado pela Internet tem arrepiado de medo desde sociólogos até os profissionais de polícia. A velocidade é maior que a capacidade de assimilar as mudanças, que não estão sendo acompanhadas por medidas de segurança capazes de proteger as informações.

A Internet tem modificado o comportamento humano, incentivando a paixão pelo conhecimento, educação e cultura. Isso, entretanto, não é de graça, vem acompanhada da inseparável e sempre (má) companhia criminosa: os criminosos digitais.

O Cyberspace conta hoje com mais de 100 milhões de pessoas conectadas em mais de 160 países. A absoluta falta de controle, quase anárquica, tem criando espaços exclusivamente para a disseminação de atividade criminosa.

Empresas, em diversos pontos do planeta, têm sido vítimas de crimes, que, na maioria das vezes, não são comunicados à polícia por causa da “síndrome da má reputação”, preferindo assumir os prejuízos com medo da propaganda negativa.

Ninguém sabe dizer exatamente a amplitude, mas tal prejuízo deve alcançar, anualmente, a cifra de bilhões de dólares. Furtam-se segredos militares, competidores fazem espionagem, bancos são vítimas de fraudes, contrabandistas e terroristas de todas as tribos mandam suas mensagens por e-mail, pedófilos trocam fotos digitalizadas de pornografia infantil, lavam-se os dólares dos crimes do colarinho branco, transacionam-se drogas, empresas e pessoas são vítimas de extorsões, fraudes, crimes de propriedade intelectual e pirataria dentre outros.

Como todo combate ao crime, os crimes de computadores começam pela prevenção. As grandes empresas, face a complexidade técnica emergente, precisam treinar grupos de análise de risco e gerenciamento de crises, identificando ameaças ao sistema, suas vulnerabilidades e contra-medidas a serem adotadas, bem como coletando indícios e provas, colaborando assim com eventual investigação policial.

A sociedade tem que ter em mente que o crime sempre, sempre está um passo a frente da polícia, e o que define se essa polícia é eficiente, ou não, é a distância desse passo, o chamado “gap” entre o crime e a polícia. Para diminuir esse “gap”, a palavra de ordem é se preparar e antecipar, e no caso da investigação de crimes digitais devemos maximizar a cooperação entre as polícias nacionais e internacionais, preparando e treinando policiais com novas técnicas de investigação, que devem agir rápidos como a era digital exige.

O FBI, já há alguns anos vem formando os chamados “Cybercops”, policiais especialmente treinados para combater esses crimes chamados de Transnacionais, e considerados o desafio criminal do próximo século.

Aqui no Brasil, como não poderia ser diferente, existe um absoluto despreparo, ignorância e falta de visão herdados por uma geração de policiais no melhor estilo “old dinosaurs” que nem sabem para que serve um “mouse” de computador.

A esperança é que essa cyberwar ao ultrapassar as fronteiras físicas das nações, tem obrigado as instituições a se aperfeiçoarem no combate dos tecnocrimes e da hipercriminalidade, sendo impossível ignorar essa guerra digital.

Leia também Os crimes digitais, hoje.

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