Chantagem internacional

Álvaro Dias diz que CPI não cederá às pressões da Fifa

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30 de outubro de 2000, 23h00

O presidente da CPI do Futebol, senador Álvaro Dias, afirmou hoje que nenhum tipo de pressão interna ou externa vai abalar o trabalho da comissão. “As pressões mostram exatamente que a CPI é imprescindível, pois o futebol não é apenas uma atividade esportiva mas também econômica. Por isso precisamos moralizar a sua prática no país, porque ele envolve divisas”, disse o senador à Agência Brasil.

Em entrevista à revista “Época” desta semana, o presidente da Fifa, Joseph Blatter, ameaçou tirar o Brasil de todas as competições internacionais, inclusive a Copa do Mundo de 2002, caso as CPIs da Câmara e do Senado convoquem árbitros de futebol para depor. “Estou consternado. Consternado com essa ingerência no futebol, sobretudo com a possibilidade de árbitros serem convocados a depor”, disse Blatter.

O argumento do dirigente da Fifa é que nenhum governo nacional tem o direito de intervir no regulamento do esporte. Assim como nas instituições ligadas à Fifa que gerenciam o futebol nos países, caso da CBF. “Se formos oficialmente notificados pela CBF, diremos

claramente à federação brasileira que, no plano nacional, façam o que quiserem, mas, no plano internacional, vocês correm risco de suspensão”.

As declarações de Blatter irritaram os congressistas que enxergaram nas ameaças do cartola uma tentativa de chantagem e conluio com as mazelas do futebol brasileiro.

A propósito de notícias de que a Fifa teria ameaçado não incluir o país na próxima Copa do Mundo, o senador Álvaro Dias afirmou que a entidade “precisa muito mais do Brasil do que nós dela”.

O senador lembrou que, segundo informação da Receita Federal, foram detectados mais de R$ 100 milhões em infrações no mundo do futebol. “Muitos fatos virão à tona, agora com a CPI. A sua própria instalação já inibe a ação fraudulenta na área”, afirmou o senador.

Nesta terça-feira (31/10) à tarde, a CPI ouve o depoimento do chefe do Departamento de Combate a Ilícitos Cambiais e Financeiros do Banco Central, Ricardo Liao. Quarta-feira, às 9 horas, será a vez do ministro da Previdência, Waldeck Ornélas.

Blatter foi eleito presidente da Fifa graças ao apoio de João Havelange, ex-sogro de Ricardo Teixeira, presidente da CBF. Na entrevista, o dirigente suíço afirmou estar “muito preocupado” com as informações que lhe foram passadas justamente por Ricardo Teixeira.

Blatter ameaçou o Brasil a não duvidar que se possa realizar uma Copa do Mundo sem a presença do Brasil: “Aconselho essas pessoas a não se arriscar em demasia”, disse Blatter, lembrando que o México foi suspenso da Copa de 1990, por ter falsificado documentos de quatro jogadores no Mundial de Juniores, dois anos antes.

A ameaça da entidade é ainda mais extensa porque, se fosse punido, o Brasil não só estaria suspenso da Copa de 2002 como também não disputaria o Mundial de Juniores, do Mundial Sub-17, Não poderia participar, também, das competições na América do Sul, do Mundial de Futebol Feminino e do torneio indoor de futsal, na Guatemala, agora no mês de novembro. Os árbitros brasileiros não seriam mais escalados e não seria mais permitida nenhuma transação de jogadores brasileiros para o exterior, segundo relata o site Pele.Net.

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