Contra o relógio

Justiça suspende horário de verão no Ceará

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7 de outubro de 2000, 0h00

Piauí, Sergipe e Maranhão têm dúvidas quanto à adoção do horário de verão. O Judiciário dos três Estados estuda pedidos para a suspensão da norma.

No Ceará, a Justiça deu parecer favorável, entendendo que o Governo Federal não pode interferir na vida pessoal dos cidadãos, obrigando a acordar mais cedo.

Liminar concedida hoje pelo juiz da 12ª Vara da Justiça Federal, Augustinho Lima Chaves, tira o Ceará do horário de verão.

A liminar integra ação popular de iniciativa do deputado federal Sérgio Novaes (PSB-CE) solicitando a exclusão do Estado da área onde há mudança.

Em seu despacho o juiz afirma que a população cearense seria sacrificada com a medida, pois muitos teriam que sair para o trabalho antes do sol nascer. O que provocaria insegurança.

Chaves contesta o argumento de que haveria economia de energia no Ceará, pois segundo estudo da Eletrobrás houve um aumento no consumo de energia no Estado de 7,7% no horário de verão 99/2000.

Quem acorda cedo critica a mudança prestes a ser alterado, o horário de verão deixa algumas pessoas irritadas.

Independentemente da idade, os que levantam cedo revelam dificuldade na hora de acordar.

A secretária Aline Junqueira, de 51 anos, sente-se cansada e com a impressão de que a noite é mais curta nessa época. “Acordo por volta das 7 horas e, com a mudança, levantarei uma hora mais cedo, quando o dia ainda não amanheceu”, diz. “Não sei o quanto isso é válido, por isso não acho justo termos de mudar nossos hábitos.”

O aposentado Ruy Othon Teixeira, de 77 anos, considera a mudança péssima. “Não gosto do horário de verão, pois o povo é obrigado a mudar o ritmo de vida por causa do governo”, diz. Para ele, há questões mais sérias para analisar, como o desemprego e a fome.

A auxiliar administrativa Mayra Fernanda Pastrillo, de 20 anos, acha difícil acordar cedo. “Com a mudança de horário, tenho a impressão de que estou levantando no meio da noite”, explica. Moradora de Pirituba, ela sai para o trabalho por volta das 6h20. “Como vou a pé, tenho medo de ser assaltada porque ainda está escuro.”

Os adolescentes mostram-se insatisfeitos por terem de acordar uma hora antes. Miriam Ohtsuki, de 17 anos, sai de casa às 5 horas para ir ao Colégio Bandeirantes, no bairro do Paraíso. “Quando saio de casa, não sei se o dia será chuvoso ou ensolarado, porque ainda é noite”, diz. Por outro lado, ela sente-se mais segura na hora de ir embora, às 18h30.

Donos de um café no Paraíso, Luiz Carlos Rodrigues, de 43 anos, e Simone Carvalho, de 30 anos, adoram o horário de verão. Para eles, a mudança favorece a segurança no local. “Fechamos o café por volta das 19 horas, quando ainda está claro; acho que isso inibe a ação dos assaltantes”, diz ele.

O motorista particular Onofre Avelino Pereira, de 72 anos, gosta dessa época. Ele se levanta às 4 horas, toma café e vai passear com o cachorro. Às 6h30 vai para o trabalho. Sua maior alegria vem quando retorna, às 17h. “É ótimo chegar e saber que vai demorar para escurecer; posso sair com minha mulher e curtir o resto do dia, antes do anoitecer.” Ele avalia: “Gostaria que o horário de verão fosse fixo.”

Revista Consultor Jurídico, 7 de outubro de 2000.

Com informações da Agência Estado.

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