A corrupção entra em campo

Juca Kfouri denuncia troca de favores no futebol brasileiro

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17 de dezembro de 1998, 23h00

Para garantir seus contratos de transmissão dos jogos, as emissoras de TV e rádio cobrem as fofocas do futebol em vez de denunciar a promiscuidade da cartolagem. Essa foi uma das afirmações do jornalista Juca Kfouri, em entrevista dada à edição de novembro do “Esquinas de São Paulo”, jornal laboratório da Faculdade de Comunicação Social Cásper Líbero.

O jornalista compara a corrupção existente nos bastidores dos gramados à inflação. Segundo Kfouri, sempre disseram que alguém ganhava com a inflação no Brasil, quando a moeda foi estabilizada, o beneficiário foi descoberto com a ruína dos grandes bancos. No futebol a situação não seria diferente. “Do mesmo jeito tem quem ganhe com essa situação falimentar do futebol brasileiro. Não são os clubes, não são os jogadores, e você olha para os cartolas e descobre quem ganha com isso”, afirmou.

Juca Kfouri conta que saiu do Grupo Abril porque pediram que ele não atacasse os dirigentes dos clubes e federações, pois a Abril estava enfrentando dificuldades com os contratos da TVA. O jornalista esportivo diz que existe um briga judicial entre a ESPN Brasil e a Sport TV por causa da CBF. A Confederação teria assinado o mesmo contrato, prometendo exclusividade de transmissão, com ambas as emissoras.

Segundo Kfouri, a Rede Globo evita falar sobre “os amigos da casa”. Ele revela que quando entrou na emissora foi chamado para uma conversa onde deixou-se claro seus limites. Ele não poderia, por exemplo, criticar o presidente da Fifa, João Havelange. O jornalista conta que chegou a sofrer punições da Globo por quebrar essas regras.

Juca Kfouri acredita que uma das últimas coisas a mudar no Brasil será o futebol. Afirma que os cartolas sabem que a Lei Pelé pode encaminhar o fim da cartolagem com a entrada dos executivos no futebol. “Esses caras vão resistir até o último homem”, acrescenta.

Por criticar freqüentemente os bastidores do futebol brasileiro, o jornalista acaba tendo de responder por ações judiciais. Em recente decisão do Superior Tribunal de Justiça, os ministros entenderam que Juca Kfouri deve responder solidariamente com a Folha de S.Paulo, por texto publicado em junho de 1996. Tudo começou quando o juiz Marcos Gozzo, do Fórum Criminal de São Paulo, rejeitou denúncia do Ministério Público sobre suposto esquema de arbitragem que teria beneficiado um time da cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo. Sua decisão foi criticada pelo jornalista.

Gozzo entrou com processo alegando que o título da notícia – “Não é gozação…”- fazia alusão, de forma pejorativa, ao nome de sua família e dava a impressão de que sua sentença teria beneficiado os acusados no processo criminal.

Revista Consultor Jurídico, 18 de dezembro de 1998.

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